Na semana passada, a empresa Colossal Biosciences anunciou o nascimento de três lobos geneticamente modificados com traços físicos semelhantes aos extintos direwolves (lobos-terríveis, Aenocyon dirus), popularizados pela série Game of Thrones, mas que existiram de facto na América do Norte até há cerca de 10.000 anos.
Os filhotes — batizados Romulus, Remus e Khaleesi — resultam de um processo de edição genética aplicado a lobos-cinzentos modernos (Canis lupus), com o objetivo de replicar características morfológicas do lobo-terrível: tamanho maior, pelagem espessa e mandíbula mais robusta.

Mas importa esclarecer: não estamos perante uma verdadeira desextinção, nem sequer uma clonagem.
Apesar de partilharem cerca de 99,5% do DNA, os lobos-terríveis e os lobos modernos divergiram há mais de 2,5 milhões de anos, pertencendo até a géneros diferentes (Aenocyon vs Canis). As semelhanças genéticas são enganosas, pois mesmo pequenas diferenças percentuais podem traduzir-se em centenas de milhares de variações genéticas.
Neste caso, foram editados 14 genes em cerca de 20.000 — ou seja, menos de 0,1% do genoma, e todos relacionados com características fenotípicas. O resultado são lobos-cinzentos com aparência reminiscente dos extintos lobos-terríveis, mas que continuam geneticamente muito mais próximos dos seus contemporâneos do que dos seus antepassados extintos.
Reflexões
- Será que vale a pena investir na recriação parcial de espécies extintas enquanto tantas outras enfrentam a extinção real?
- Estamos a fazer ciência… ou espetáculo?
- Quando é que um animal se torna suficientemente “semelhante” para falarmos em desextinção?
- E sobretudo: que papel queremos que estas tecnologias desempenhem no futuro da conservação?
O projeto é fascinante, mas talvez devêssemos ser mais cautelosos com os termos que usamos. A aparência pode enganar — e no caso da genética, engana mesmo.

“Trazer de volta” uma espécie vai muito além de replicar-lhe o aspeto.