“O nosso objetivo não é ganhar dinheiro, devemos isto aos cidadãos.”
Paulo Pereira da Silva, presidente do grupo Almonda SGPS
A Renova Fábrica de Papel do Almonda, SA, é uma empresas portuguesas que, apostando numa estratégia de ecodesign, adotou uma rotulagem ecológica, criando para o efeito uma gama específica de produtos: RenovaGreen. Nestes produtos se incluem: papel higiénico, rolos de papel de cozinha, guardanapos e lenços de bolso.
Apesar do ciclo de vida destes diferentes produtos ser muito semelhante, define-se como unidade funcional do presente trabalho, uma embalagem de rolos de papel de cozinha.

O ciclo de vida deste produto, esquematicamente representado no diagrama geral de fluxos acima, inicia-se com a aquisição da matéria prima: o papel usado. De acordo com a informação prestada por esta empresa, os produtos desta gama são fabricados unicamente a partir de pasta de papel reciclado, produzida localmente nas unidades fabris da companhia:
Não abatemos árvores nem consumimos pasta proveniente de uma gestão sustentada da floresta. A única floresta que gerimos é a “floresta urbana”: os escritórios e as casas de onde provém o papel já usado.
Obviamente, a aquisição e transporte deste papel usado, implicam um consumo de energia (combustíveis fósseis) e a inevitável libertação de resíduos para o meio (emissões atmosféricas).
O processo de manufatura, inicia-se com a recepção e armazenamento desta matéria prima e a subsequente transformação em pasta de papel. Durante este processo é necessário o consumo de água e, uma vez mais, de energia (eletricidade). A empresa tem procurado reduzir estes consumos, reaproveitando sempre que possível, a água anteriormente utilizada. Não são utilizados, durante este processo, produtos intermédios que contenham substâncias consideradas perigosas: corantes, tintas, perfumes ou cloro.
As saídas finais deste subsistema, incluem a pasta de papel, e resíduos líquidos (lançados no rio Almonda após tratamento) e gasosos (lançados na atmosfera).
O subsistema seguinte é mais uma das etapas do processo de manufatura e consiste, neste caso, na transformação da pasta de papel em rolos de cozinha. Durante este processo, uma vez mais, existe consumo de energia elétrica e libertação de resíduos para o ambiente.
Para o processo de embalagem do produto são utilizados materiais igualmente reciclados e fabricados em unidades localizadas num raio de 400 km, de forma a minimizar o combustível consumido durante o seu transporte.
Após a fase de utilização, a embalagem poderá dar entrada num sistema de reciclagem, enquanto o destino final do produto (papel de cozinha usado) será a incineração ou a deposição em aterro (efluentes gasosos e resíduos sólidos, respetivamente).
Os principais competidores da Renova são multinacionais de grandes dimensões. A consciência da sua pequena dimensão face à concorrência, leva esta empresa a apostar em produtos inovadores, entre os quais se encontram os da gama RenovaGreen.
A atribuição do Rótulo Ecológico Europeu funciona, deste modo, como marca distintiva face aos produtos da concorrência. Os consumidores, cada vez mais preocupados com as políticas ambientais das empresas, recorrem à rotulagem ecológica como forma de seleção dos produtos amigos do ambiente. Desta forma, a Renova procura alcançar um nicho comercial que, mesmo não sendo muito significativo na atualidade, tem franca tendência a aumentar exponencialmente durante os próximos anos.
A análise de ciclo de vida envolvida no ecodesign do produto, implica, por outro lado, uma atenção redobrada ao consumo de energia e materiais e à produção de resíduos o que, por si só, poderá significar uma redução dos custos de produção face aos produtos que não sejam sujeitos a este tipo de estudo.
A opção pela utilização de matéria prima integralmente reciclada e a não utilização de substâncias perigosas durante a fase de manufatura, porém, resultam num custo acrescido face à produção tradicional. O passo lógico, e quase inevitável de acordo com o modelo económico, seria a empresa lançar estes produtos no mercado com um custo mais elevado relativamente a produtos semelhantes produzidos segundo os métodos tradicionais. A Renova, surpreendentemente, não o fez. De acordo com Pereira da Silva, presidente do grupo, “os RenovaGreen não serão mais caros, indo competir com os outros produtos menos amigos do ambiente”.
Embora esta afirmação seja complementada com a frase que inicia este trabalho, numa clara referência à dívida ambiental que a empresa acumulou durante anos de atividade, trata-se, no fundo, de uma elaborada estratégia de marketing. O rótulo ecológico poderá não resultar em dividendos económicos imediatos mas é uma clara aposta no futuro.
Enquanto consumidor, toda a gama de produtos RenovaGreen se apresenta bastante atrativa.
Do ponto de vista ambiental, sabemos que o consumo destes produtos está a contribuir para a preservação das florestas e que há um cuidado acrescido na tentativa de diminuição da produção de resíduos.
Com preços similares aos produtos da concorrência, não faz sentido escolher outra solução: estas, na generalidade, não só não apresentam o rótulo ecológico, desconhecendo-se, portanto, o seu processo de fabrico, como têm origens extranacionais, aumentando a distância do transporte e, consequentemente os níveis de emissões atmosféricas.